Em nosso artigo, “Alfabetização Financeira e Inclusão de Gênero” traçamos um panorama sobre os dados que demonstram a baixa alfabetização financeira das pessoas em todas as classes sociais, especialmente no Brasil. Em outro artigo, “A Urgência da Educação Financeira das Mulheres”, também trouxemos dados que demonstram o quanto as mulheres ainda estão mais atrás nessa equação.
O nível de alfabetização financeira é medido por indicadores que suportam três construtos propostos pela OECD (Organization for Economic Co-operation and Development) e pela International Network on Financial Education: a atitude financeira, o comportamento financeiro e o conhecimento financeiro. A OECD define a alfabetização financeira como um combinado de conhecimentos, habilidades e técnicas, que se somam para auxiliar nas tomadas de decisões a fim de chegar ao bem-estar financeiro pessoal.
Como a alfabetização financeira auxilia a vida das mulheres
Sabemos que quanto mais bem alfabetizada financeiramente uma pessoa estiver, maior será a sua capacidade de fazer escolhas, romper com as barreiras sociais e ter ascensão financeira. Em nosso artigo “A Importância da Educação Financeira nas Escolas” discutimos sobre o papel das escolas no ensino de finanças. Se o conhecimento de finanças começa a ser ensinado desde cedo nas escolas, melhor será a capacidade de a população tomar decisões financeiras bem informadas e fazer uma gestão adequada das finanças pessoais e familiar.
O conhecimento de finanças tem o potencial de nos ajudar a criar hábitos sustentáveis de finanças, aprender a poupar, a ter bons resultados nos investimentos, a obter mais crédito e pagar menos juros, o que permite financiar uma vida equilibrada e sustentável no futuro.
Sem uma compreensão mínima dos conceitos financeiros básicos, as mulheres estão menos preparadas para tomarem decisões eficientes, o que as torna vulneráveis financeiramente, sendo o grupo que mais necessita dos programas de educação financeira, e o grupo que potencialmente mais se beneficiaria.
A importância do conhecimento financeiro aumenta com a complexidade financeira do mercado. A frequente oferta de uma ampla gama de produtos financeiros que vêm sendo oferecidos para a população em geral torna o conhecimento mais necessário e as escolhas de investimentos ainda mais críticas. Hoje, as pessoas estão tendo acesso a um número cada vez maior de produtos e de serviços financeiros e devem decidir quais desses produtos são adequados para elas, quais deles oferecem maior vantagem e lucratividade a curto e longo prazo e com menor risco de perda do capital.
Com a chegada de um número expressivo de Fintechs no mercado brasileiro, a inclusão do PIX e mais recentemente, a abertura das informações bancárias com o modelo do Open Banking, vem aumentando a complexidade das decisões financeiras. Além da existência de um cenário financeiro cada vez mais complexo, o que dificulta decidir como tratar as finanças pessoais, as mulheres estão nadando em um mar de serviços financeiros, pois cresce a cada dia a oferta de serviços e produtos de finanças, especialmente, com o número de Fintechs que surgiram nos últimos anos. Com a crise gerada pela pandemia por Covid-19 e o consequente isolamento social, acelerou-se o processo de inclusão financeira tornando-se bancarizados 174 milhões de brasileiros. O número de mulheres com uma conta bancária aumentou, mas considerando que permanece baixo o nível de alfabetização das mulheres, não podemos afirmar que elas estejam preparadas para enfrentarem os desafios que irão encontrar nas finanças.
Problemas gerados pela falta de conhecimento sobre finanças
A falta de domínio e a falta de informação financeira provocam o aumento dos custos de empréstimos e a perda de oportunidades financeiras para as mulheres. Por exemplo, se a consumidora não consegue entender o conceito de juros composto, poderá gastar mais em taxas de juros, acumular dívidas maiores e assumir juros mais altos pagos pelos empréstimos tomados conforme foi apontado nos estudos de Lusardi e Tufano (2015). Elas também acabam pedindo mais empréstimos, para pagar os juros do financiamento e economizando menos dinheiro (Stango e Zinman, 2009), consequentemente, terão menos dinheiro disponível no final, por exemplo, para a aposentadoria.
Quando as mulheres aprendem mais sobre finanças, entendem verdadeiramente a importância de poupar e de investir e aprendem: “sobre os tipos de produtos financeiros devem adquirir; como evitar os financiamentos com juros abusivos; como escolher melhor entre as diferentes opções de crédito oferecidas no mercado; como investir o excedente dos ganhos, como diversificar seus investimentos e, também, como fazer um planejamento adequado para se financiar no futuro.
Ter um bom nível de conhecimento sobre alfabetização financeira é muito importante para as mulheres, visto que, em média, vivem mais que os homens, de forma que necessitam acumular mais recursos para financiarem a vida por mais tempo. Além disso, tendem a receber salários menores do que o dos homens, além de possuírem uma maior rotatividade no mercado de trabalho e não acumularem recursos de aposentadoria nos períodos de licença maternidade. Todos estes fatores contribuem para uma menor acumulação de riqueza e segurança financeira ao longo da vida, ou seja, as mulheres são mais propensas a não possuírem uma estabilidade econômica na velhice.
Os benefícios potenciais da educação financeira são incontáveis para a inclusão financeira de gênero. A alfabetização financeira é o principal fator de inclusão de gênero, pois permite usar o conhecimento para gerir nossas finanças com autonomia. Ao fazerem uma gestão adequada da renda, as mulheres previnem o endividamento e guardam mais para o futuro. Ter uma boa educação financeira auxilia as mulheres a se tornarem mais predispostas a planejarem sua aposentadoria, gerando criação de patrimônio, garantindo seu bem-estar no futuro e uma boa vida financeira.
Por Vanise Goulart Zimmer.
Presidente e fundadora da Ladybank. É Psicóloga e Empresária Social. Mestre em Psicologia Social e Doutora em Engenharia de Produção pela Escola Politécnica da USP (2008). É Especialista em Estudos de Gênero e Tecnologia pela Universidade Leibniz de Hannover na Alemanha. Atuou por anos como pesquisadora tendo a oportunidade de desenvolver o tema Cognição e Tomada de Decisão, em Finanças, gestão de portfólio, risco financeiro, relações de gênero, trabalho e tecnologia, interface e usabilidade de sistemas.